O mar no teu olhar

Ancorei, iludido por uma vida adormecida. 
Nesse promontório aninhei-me na nostalgia de tempos melhores repleto de memórias e de suspiros partilhados e muitos mais por viver.

Peguei naquela velha caixa de sapatos onde guardava, envolto em rituais sentidos, os meus sonhos e quem sabe os teus também. Depois de tocar carinhosamente em cada objeto, no interior dessa velha caixa, e de sentir os meus olhos a humedecerem-se, foi claro o parto que tinha que fazer.

Levantei os ferros com um medo crescendo dentro de mim, mas não poderia regressar… e parti!
Parti sem expectativas, só… com um impulso muito forte de SER!
Que caminho seguir? Qual o mais sensato, o menos doloroso, o mais verdadeiro…? Silêncio!

Quando “chegares” saberás… VIVE marujo!

Passas-te por mim que nem um furacão, mas o teu epicentro ressou-o na minha embarcação de forma precisa e se todo o nevoeiro se fizesse presente naquele momento, não consegiria iludir a direcção a tomar.

No teu olhar reconheci o reflexo de mim próprio, na superfície desse imenso mar bombardeado de luz prateada e pela força das vagas que me estremeceram por dentro e fizeram-me velejar até Casa.
É-me profundamente familiar… um lugar sem espaço onde qualquer coisa, anterior à fonte sem começo da criação pode ser sentida. Onde poderemos observar e sentir se estamos a irradiar desde esse centro único. Para isso é necessário esvaziarmo-nos. Nesse vazio, estamos abertos e o Amor expressa-se como água cristalina.

Mergulhámos na eternidade de SER?
Quem sabe… não sabe e não o diz.

Autor: Carlos Poço

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